domingo, 25 de agosto de 2019

TARANTINO É UM IDIOTA


O novo filme do diretor Quentin Tarantino, "Era Uma Vez em Hollywood"', estreou no último dia 15 imbuído de polêmicas. Pois bem, fui assistir ao filme com a expectativa moderada, tendo em vista que - na minha opinião - o diretor não vinha entregando nada de relevante nos últimos anos. Nada mudou. Tarantino é conhecido pelos diálogos longos e cheios de conteúdo, nesse filme o primeiro ponto está presente, o segundo não. A produção é lotada de diálogos desnecessários, Tarantino deve se regozijar dessa sua característica enchendo muita linguiça, cansando o espectador, ele conseguiu essa proeza até em um diálogo entre Al Pacino e Leonardo DiCaprio, tarefa que pareceria impossível.
  Um dos maiores erros que os cineastas cometem quando situam o filme em uma determinada época (no caso aqui os anos 60) é justamente querer ficar lembrando o espectador de uma maneira saturada - com músicas, por exemplo - que o filme se passa naquela época... Aliás, trilha sonora é o que não falta pra acompanhar os closes exaustivos das estrelas do filme. Sharon Tate, atriz e musa dos anos 60, é "''interpretada""" pela queridinha de Hollywood do momento, Margot Robbie, que pinta um retrato de Tate como se fosse uma boneca inflável sem talento, ou uma criança de 10 anos no corpo de uma mulher sensual que só faz desfilar e dançar o filme inteiro. O maior pecado aqui está no fato de que cenas reais de Tate são mostradas, em comparação com Robbie fica claro ao espectador que ambas não são a mesma pessoa, quebrando totalmente a "realidade" da interpretação da atriz e do filme. Preguiçoso, Tarantino poderia muito bem ter regravado a tal cena com a atriz para que não ficasse destoante. Na verdade, elas nem se parecem fisicamente.
  Cenas contendo vários minutos de Margot Robbie simplesmente fazendo nada cansam o espectador. Assim como Brad Pitt dirigindo incontáveis vezes pra lá e pra cá. Mais uma vez Tarantino enchendo linguiça em um roteiro vazio. O que dizer de Pitt preparando o seu jantar e o do seu cachorro? Perca de tempo. O mesmo personagem que supostamente assassinou a própria esposa tem muito, """MUITO""" caráter quando recusa ter relações sexuais consentidas com uma mulher de 18 anos que obviamente está interessada nele, pedindo documentos para que ela comprove a sua idade. Bem altruísta. Tarantino tinha que agradar, assim como vem fazendo de uma forma latente desde "Bastardos Inglórios"(2009).
  Outro motivo pra manchete foi o fato de que Charles Manson apareceria no filme. Por decepcionáveis poucos minutos e diálogo - veja bem, no singular - ele aparece sim, nada demais. E a baboseira faroeste - saturada - mais uma vez presente, desde "Django Livre" (pasmem), passando por "Os 8 Odiados" (PASMEM). Depois de alguns cochilos e de algumas torcidas interiores para que aquela tortura finalmente chegasse ao fim, o título "ERA UMA VEZ EM HOLLYWOOD" veio á calhar, tendo em vista o título lúdico do "era uma vez..." já que o filme distorce a realidade dos fatos: quem conhece a história sabe que os fanáticos seguidores de Charles Manson assassinaram Sharon Tate e os seus amigos, mas nem isso Tarantino teve a coragem de mostrar. Medo de chocar? Vontade excessiva de agradar? Realmente, não quis tocar na ferida, mas aí vem outro questionamento: esse não seria o sentido da arte? Não seria o sentido do cinema cutucar e fazer pensar? Chocar! Sim, a vitamina de Quentin Tarantino está cada vez menos homogênea, diria que virou praticamente água. Falam tanto da aposentadoria do cineasta, ele deveria realmente considerar isso. "Era Uma Vez em Hollywood" é um filme fraco, cheios dos clichês e referências do seu próprio criador. O ego é uma coisa perigosa, e o politicamente correto também, que cada vez mais dilui a obra em prol de agradar cada vez mais tudo e todos nos transformando em seres homogêneos e não pensantes.

Ah, talvez o filme impressione garotinhas de 15 anos.

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Telas cada vez menores


Há 119 anos os irmãos Lumière exibiram o primeiro filme da história, mais precisamente em 28 de dezembro de 1895, na cidade de La Ciotat, no sudeste da França. Grande parte das suas produções eram documentários curtos, que eram exibidos com o primeiro equipamento criado por eles, o cinematógrafo.

De lá pra cá, muita coisa mudou em termos de avanço de som e imagem, mas o princípio é o mesmo: contar uma história e conquistar o público. Quem diria que na primeira exibição pública do filme "L'Arrivée d'un train à La Ciotat" (A Chegada do Trem na Estação) lá em 1896, o público fugiria da sala acreditando que o trem sairia da tela? Era o cinema iniciando o seu encanto. Hoje em dia, temos salas equipadas com os melhores sistemas de som, o precursor disso foi ninguém menos que Walt Disney, com o filme Fantasia, lançado em 1940. Disney queria que o público tivesse uma experiência totalmente sensorial assistindo ao filme, por ser uma obra em que a música sinfônica tem uma importância enorme, então os engenheiros da empresa desenvolveram o sistema "Fantasound", um esquema que espalhava diferentes sons em diversas partes do ambiente, e é exatamente isso que fazem os sistemas de som 'surround' que usamos até os dias de hoje.

Muitas mídias já foram utilizadas para reproduzir os nossos filmes favoritos, eu mesmo era frequentador assíduo das videolocadoras na infância, alugava sempre os mesmos filmes e nunca cansava, justamente por não ser tão acessível. Nos dias de hoje, á qualquer hora e lugar podemos assistir aos nossos filmes favoritos. As telas foram diminuindo: cinema, TV, notebook, celular (até hoje não sei como alguém consegue apreciar uma produção em telinhas tão minúsculas, tentarei um dia!). A acessibilidade e os "torrents" se manifestaram, muitas opções ao mesmo tempo, muita rapidez, todo dia uma serie nova, é frenético... Tudo que vem fácil, vai fácil. Muitas vezes quando as opções são tantas e a facilidade é tamanha, não temos tempo de realmente apreciar uma obra, de ter uma sensibilidade com aquilo que está sendo mostrado ou deixar que ela nos marque. Acho importante que a cultura do cinema seja acessível, mas que também o seja DENTRO DO CINEMA, que os amassos nunca deixem de acontecer, que o pretexto para ver os amigos e assistir aquele filme (que todo mundo sabe que não é grande coisa) mas que serviu para reunir e tirar umas boas gargalhadas, nunca desapareçam. Cinema é cultura. Cinema é geração. E que nunca, jamais, em hipótese alguma, permitiremos que as histórias contadas nas telonas (ou nas telinhas, eu me rendo...) parem de tocar os nossos corações, afinal, a arte imita a vida, e a vida imita a arte!!!

"No escurinho do cinema, chupando drops de aniz, longe de qualquer problema, perto de um final feliz..."

Cão dos Inferno


Engraçado como eu sempre penso em um título 'esdrúxulo' para os meus textos, é sempre a primeira opção, esse mesmo por exemplo foi o que melhor traduziria o conteúdo desta crônica que eu vos escrevo. Será que não é muito sincero? Tendo em vista que sinceridade está igual ao Pulma do Leste, oficialmente extinto. Foda-se.

Ele acordou como se comandasse os nove círculos do inferno, se pudesse definir o seu dia em cores, elas seriam vermelho, preto e vinho com pitadas de bordô. Ligou a vitrola e tocou um disco de Vivaldi, nada melhor do que 'musique classique' para começar bem o dia e tramar um plano maligno, digno de um vilão de cinema, daqueles que nós amamos odiar. Olhou para o céu e lembro dela. Ele e ela jogaram um jogo muito perigoso: o do amor. Na verdade, era o jogo favorito dele, que adorava os poemas "Wildanos", 'très romantique', talvez funcionassem no século XIX, aliás, talvez ainda funcionem para algumas pessoas, mas são tempos difíceis.
Será que ele realmente havia gostado dela? Ou tudo não passou de um 'rendez-vous'  passageiro? Daqueles que se a união tivesse se concretizado, seria puro tédio e mediocridade, quer dizer, o "gás" todo estava no perigo, nos conflitos e emoções gerados por aquela "união impossível", coisa de filme francês.

O GÁS ERA HÉLIO, E ELE SÓ DESCOBRIU DEPOIS. DEMOROU.
Antes tarde, do que nunca.

PUTA. PROSTITUTA. PROSTITUTA. RAPARIGA. QUENGA. RAPUTENGA.

Pegou um Marlboro, e o primeiro trago foi como se fosse a vida, quando soltou a fumaça, expulsou o que havia dela dentro dele.

PROSTITUTA.

Sabe quando você vai cozinhar, e não precisa ser nada muito elaborado, um miojo pro exemplo. Enquanto mexe o macarrão na água fervendo pensa na vida, profere blasfêmias de amor. É lento, muito lento.
Se sente a Glenn Close, em 'Ligações Perigosas', só falta o vestido renascentista e o Visconde de Valmont.
PLANOS DIABÓLICOS.
Aí você come o miojo, como é bom.
 Lá no fundo, agimos por sentimentos nobres: amor e paixão. Mas no que isso se transformará, ninguém sabe, mesmo que tudo vire amargura e revolta, depois da CONFUSÃO vem a LIBERTAÇÃO.

Mais um Marlboro.

sexta-feira, 20 de abril de 2018

Síndrome de Julianne



Todo mundo conhece Julia Roberts: famosa atriz de Hollywood, beldade das mais diversas capas de revista, ganhadora de Oscar, cabelos ruivos ondulados, boca famosa... Qualidades que não faltam! Sou fã, aprecio várias produções das quais ela participou, mas um dos meus filmes favoritos é "O Casamento do Meu Melhor Amigo" de 1997 (bem "Sessão da Tarde"), em que ela interpreta Julianne, uma crítica gastronômica solteirona que descobre as vésperas do casamento do seu melhor amigo que simplesmente o ama (sim, que surto!). Depois de tanto tempo a ficha caiu.
Julianne tenta a todo custo vencer uma batalha que no fundo já sabia estar perdida. Na verdade, muitas coisas na vida são assim. Ás vezes, só percebemos quando já é tarde demais, ou interpretamos da maneira errada. Ela é aquela pessoa independente, do mundo que simplesmente quer amar e ser amada. Que faz coisas "estranhas" para conseguir o seu objetivo. Me identifico com Julianne.
Numa das cenas mais famosas do filme, logo após roubar um beijo do seu amigo, Michael, o momento é flagrado por ninguém menos que a noiva, Kimmy (infeliz coincidência), e aí se inicia uma perseguição cômica, ao som de "What the world needs now"! Enquanto dirige freneticamente atrás de Michael, liga desesperadamente para o seu melhor amigo gay, George:

- Roubei uma van e estou atrás do Michael na Av. Michigan! Disse que o amava e o beijei e deu nisso!
- Jules, uma pergunta. Quando você o beijou, ele retribuiu? Algo no beijo a fez acreditar que essa perseguição acabaria bem?
- É irrelevante. Fomos interrompidos! Kimmy viu tudo e Michael saiu atrás dela.
- Ele está atrás dela? Você está atrás dele?
- Sim!
- Quem está atrás de você? Ninguém! Entendeu?

Existe poesia nisso tudo. A questão dos amores e paixões que envolvem a nossa vida, das expectativas que nós botamos nos outros e as situações loucas pelas quais passamos. É de se perguntar: QUEM É QUE REALMENTE ESTÁ ATRÁS DE NÓS? Jullianne não é perfeita, e o ser humano é assim. Entre esvaziar o frigobar do hotel e fumar mais um Marlboro Vermelho, ela tem (quase) certeza de que Michael prefere gelatina (ela) á creme brulee (Kimmy). Mas não é assim.
No final, Michael escolhe creme brulee, e ela finalmente entende isso. Bom, não se pode ter tudo e a vida é feita de escolhas. Mas o que realmente importa é tentar, e se não deu certo, vida que segue! O único comprometimento que Jullianne tem é com a sua liberdade, e eu também, afinal, tem coisa melhor do que se sentir livre?

"Forever, and ever, you'll stay in my heart
and I will love you
Forever, and ever, we never will part
Oh, how I love you
Together, forever, that's how it must be
To live without you
Would only meen heartbreak for me..."

Erick Marques

quinta-feira, 1 de março de 2018

Perdas e Danos (1992)

"Lembre-se: pessoas feridas são perigosas"


Perdas e Danos foi um daqueles filmes que eu vi por acaso no final da tarde de um dia qualquer. Claro, o título me chamou atenção, e quando acabou, fiquei estarrecido. Mas calma, vamos do início: é baseado no livro de Josephine Hart (1991). Louis Malle, famoso diretor francês que lançou o seu primeiro longa em 1958 (Ascenseur Pour L'échafaud - Ascensor para o Cadafalso), fez a adaptação cinematográfica e foi responsável por várias obras que lidam com temáticas polêmicas. Essa produção não poderia ser diferente.
O filme é estrelado por Jeremy Irons (que voz!) e Juliette Binoche (que beleza!), que vivem uma relação, digamos, insólita. Para ser apreciado como (e com) um bom vinho (clichê, mas é verdade), o filme não tem pressa, é frio, se passa na Inglaterra e toca na ferida das relações amorosas e sexuais. Te faz perguntar: e se isso acontecesse comigo?
Em meio a uma cena do campo pincelada por Monet, os olhares e os gestos terão que ser sutis. Entre encontros soturnos e secretos, o desejo explode onde quer que esteja, é incontrolável. Tudo começa com um olhar, daquele tipo que a comunicação é clara e evidente, o fascínio e a conexão se unem em forma de desejo entre duas pessoas. Não precisa-se dizer uma palavra, os dois já entenderam tudo, e é na ação que eles se mostram.
A loucura e obsessão por alguém é mesclada a traumas do passado, que afetam o presente e o futuro. O filme trânsita na psique, e nos faz refletir sobre até que ponto as nossas ações podem nos levar e afetar as outras pessoas que estão ao nosso redor.


 

Perdas e Danos, é um tiro certeiro para quem se interessa por relações humanas e psicologia, além de claro, ser um filme impecável em cenários e fotografia. Foi o penúltimo filme de Malle (1992), que infelizmente faleceu em 1994, e assim como Kubrick, nos deixou com uma obra prima do cinema (De Olhos Bem Fechados, 1999).

Ficou curioso para saber que tal relação é essa? É a minha intenção, atiçar e vontade, não dar "spoilers"! Então, se prepara e não perde tempo, a Netflix adicionou o filme ao seu catálogo recentemente! Outra dica do mesmo diretor é "Au Revoir Les Enfants" (Adeus Meninos, 1987), onde um garoto judeu passa por várias adversidades em uma escola na França durante a ocupação nazista. Até a próxima!


"- Não consigo ver nada além de você.
- Acho que você nunca viu muita coisa."

Erick Marques

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Meu Amigo Dahmer (2017)

Eu já havia falado anteriormente sobre Jeffrey Dahmer, quando fiz a resenha da HQ escrita e ilustrada por um de seus colegas do colégio, Derf Backderf. A obra ganhou agora ganhou uma versão cinematográfica, dirigida pelo diretor Marc Meyers e com o roteiro do próprio Backderf.
Fui assistir a produção com grande expectativa, já que o quadrinho não deixou nada a desejar com seus detalhes ricos e ilustrações em preto e branco.


Posso dizer que é um dos melhores filmes que vi ultimamente. De suspense sutil e desenvolvimento calmo, o filme faz jus a obra ilustrada, sem pressa. Enquanto assistia ao filme, visualizei claramente todas as cenas da Graphic Novel publicada aqui no Brasil ano passado. "Meu Amigo Dahmer" não dá prioridade a banhos de sangue exacerbados e assassinatos mirabolantes que só Hollywood consegue produzir. Ele é cru e emotivo, mostra o processo e as consequências que fizeram com que um dos Serial Killers mais notórios do mundo se tornasse o que se tornou, como se fosse um diário audiovisual na vida de um adolescente que se sentia deslocado de tudo e de todos.
Porém, tiveram dois detalhes que me decepcionaram no filme:

I - Uma das sequências mais tensas da HQ é quando Dahmer é parado pela polícia por estar vagando de madrugada sem nenhum motivo aparente. Só que no porta-malas do veículo se encontram os restos mortais de sua primeira vítima. O mesmo afirma que era apenas lixo para o oficial, que acredita e o libera. Essa cena infelizmente não está no filme, senti muita falta, pois o clímax ia ser perfeito!

II - Também houve uma confusão na linha do tempo: Na HQ, Jeffrey faz a sua primeira vítima, Steven Hicks, logo na sequência Backderf está dirigindo e encontra Jeffrey vagando sozinho na estrada, oferece uma carona para deixá-lo em casa, enquanto conversam dentro do carro. Só que no FILME, essa mesma sequência do carro acontece primeiro e Backderf percebe resquícios de sangue nas mãos do colega... Mas é só depois que Dahmer vai matar Hicks. Confesso que fiquei confuso... Como ele poderia ter resquícios de sangue se nem tinha chegado a matar ainda?

HQ - Jeffrey Dahmer mata e depois tem o encontro com Backderf
FILME - Jeffrey Dhamer encontra com Backderf (com resquícios de sangue nas mãos) e depois mata sua primeira vítima(???)

Não vi nenhum cinema exibindo o filme aqui no Brasil, mas pra quem quiser, já está disponível no Popcorn-Time, aproveitem e não deixem de ler o quadrinho também!

Erick Marques





segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Entrevista com o vampiro apresenta: André Morais

André Morais é um multiartista paraibano de grande nome no cenário cultural. Natural de João Pessoa, André nos maravilha com a sua obra que transita nas várias vertentes da arte, incluindo música, teatro e cinema; versátil como é, lançou o seu primeiro CD intitulado "Bruta Flor" ,em 2011, fazendo da sensibilidade seu argumento maior para cada canção que assina e interpreta, construindo um retrato da sua alma musical. Em seguida, nos dilacerou com "Dilacerado", album de 2015, onde explora o amor e o erotismo, apresentando dez canções de sua autoria que construiu ao longo de três anos. "Bruta Flor", que também é o nome do monólogo-musical, traz o artista vivendo um trovador que conta e canta a sua história com músicas compostas em parceria com Chico César, Carlos Lyra, Ná Ozzetti, Edu Krieger, Marco Antônio Guimarães, Ceumar, GianaViscardi e Milton Dornellas. “Diário de um Louco”, espetáculo teatral, baseado no conto russo de Nikolai Gogol foi feita em parceria com Jorge Bweres, numa produção do grupo Teatro Lavoura. A obra foi apresentada em mais de 60 cidades do Brasil, através do projeto Palco Giratório promovido pelo SESC. O espetáculo expõe as confidências de um homem comum que encontra na loucura o meio de vencer a mediocridade da existência. No cinema, trabalha como roteirista e diretor, “Alma”, seu primeiro filme, participou de mais de 20 festivais no Brasil e exterior. A obra cinematográfica conquistou o prêmio de Melhor Curta, no Festival Latino-Americano de Toronto, no Canadá; o Prêmio MEC de Melhor Curta Universitário Brasileiro; além dos prêmios de Melhor Fotografia e Melhor Curta-Metragem pela Associação Brasileira de Documentaristas e Curtametragistas de Pernambuco (ABD – PE) no CINE-PE 2005. Em 2009, o projeto de longa-metragem “Rebento”, de sua autoria, venceu o Concurso do Ministério da Cultura para Desenvolvimento de Roteiros de Longa-Metragem inéditos.


1 - André, em qual momento você percebeu que tinha aptidão para o mundo artístico?
Eu comecei a fazer teatro no colégio para fugir da educação física! Na adolescência, estar na energia competitiva do esporte não era algo que queria. Pisei no palco do Teatro Ariano Suassuna, no Colégio Marista, e lá comecei a ter contato com um mundo novo. A partir desse momento eu pude perceber que alguma coisa em mim ocupava um lugar. Um sentido de vocação mesmo! Minhas energias todas se voltavam para isso, para essa construção de um fazer artístico. Onde eu tenho um canal de expressão genuíno e onde eu vivencio um processo de amadurecimento como artista e como homem. Ali eu entendi que o que parecia ser minha fraqueza, ser sensível, sonhador e imaginativo, era a minha força.

2 - Música e performance. Qual é a importância da junção do som e da teatralidade nos seus espetáculos?
Na verdade, essa é a gênese do meu trabalho. Misturar, unir, borrar um pouco essas fronteiras das artes. Eu digo que o teatro é a minha “arte-mãe”, é a base de onde todo processo se desdobra. Então, pela minha formação como artista, não faz sentido ir por outro caminho. Eu penso sempre um show como um espetáculo, e eu sou sempre um ator em cena. Por isso, a palavra dita é tão importante quanto as canções. Nesse momento, também tenho trazido a dança, pela minha vivência de trabalho de expressão corporal que o teatro me trouxe, e assim vou construindo as camadas de cada espetáculo.
3 - Quais são as suas maiores referências no mundo do cinema e como elas transitam no seu trabalho?
Meu primeiro encantamento, na infância, foi com o cinema nacional mesmo. Os filmes dos Trapalhões ficaram muito guardados na minha memória. Depois, na minha adolescência, fui ter contato com o cinema brasileiro mais genuíno, de Vidas Secas, Deus e o Diabo na Terra do Sol, até Central do Brasil. Nesse tempo, também comecei a fazer trabalhos práticos no audiovisual, foi quando decidi entrar para faculdade de Jornalismo e daí abrir meus olhares para o cinema do mundo. Bergman, Kieslowski, Truffaut, Angelopoulos, Billy Wilder e uns tantos outros, viraram referências fortes.

4 - Qual é o maior desafio de produzir uma obra cinematográfica?
O maior desafio é vivenciar todo processo. São muitas etapas, que demandam tempo e dedicação. Meu último filme, Rebento, meu primeiro longa-metragem, foi um processo de 10 anos. Desde a etapa de criação do roteiro, a captação de recursos, a construção de uma equipe, a preparação de elenco, as filmagens e etc. Tudo é uma grande demanda de energia. Agora estou vivenciando o grande desafio que é fazer o lançamento de um longa, não é fácil.

5 – O Festival de Música da Paraíba, que vai acontecer em João Pessoa no início do ano que vem, está proporcionando aos artistas uma oportunidade de visibilidade e reconhecimento. Qual é a importância do Festival para os musicistas e compositores da terra?
Eu penso que é uma grande celebração! Uma celebração da música paraibana, uma celebração dos artistas que estão juntos nessa lida do fazer artístico. Também penso que é um encontro com os artistas de outras cidades, e isso é de suma importância, aproximar mais a Paraíba. Estou curioso para ouvir e aplaudir as obras dos meus amigos de ofício, que estão construindo coisas tão belas! Fico feliz de poder admirar e ter como referência, nesse momento, os artistas que são da minha cidade, muitos da minha idade, produzindo com tanta vocação e delicadeza. Vivenciamos um momento belo e que alegria poder celebrar isso!
6 - André, agora nos diga uma música, um filme, um clipe e um livro que te inspiram no processo criativo.
A música é "7 Cantigas Para Voar" de Vital Farias, o livro "O Amor Natural" de Carlos Drummond de Andrade, o clipe é "Sutilmente" do Skank  e o filme "Nós que Nos Amávamos Tanto" de Ettore Scola.

Erick Marques