Marcondes Orange.
- Jamila, como surgiu essa paixão pela Paraíba?
Eu tenho paixão pela vida e em vivê-la. Quando tinha 17 anos, fiz vestibular para alguns locais diferentes e então, apesar de passar na minha cidade, no Piauí, resolvi cursar odontologia na Universidade Estadual da Paraíba. Eu queria conhecer outra cultura, estilo de vida e experimentar minha independência e liberdade. A consequência de tudo isso, é meu coração ter se rendido aos encantos desta terra e hoje declarar-se "Piauíbano". Vivo aqui há mais de dez anos e sou grata, por a Paraíba ter me pegado no colo, como uma mãe gentil.
- De formação acadêmica em odontologia para a música, você imaginou que um dia adentraria na vertente musical?
Apesar de sempre sentir a arte correndo nas veias e fazer parte de uma família de escritores, compositores e artistas plástico, a musica era, para mim , uma atividade paralela, um hobby, uma terapia. Quando surgiram as composições, comecei a mostrar, timidamente, aos mais próximos e todos que ouviam diziam: "Ah! mas você tem que mostrar isso para o mundo". Isto reverberou em mim e para além. Hoje, mais que o meu hobby e a minha terapia, a música é o meu caminho para a felicidade e o melhor, ainda é o meu trabalho. hahaha.
- A composição e as ideias surgem muitas vezes quando menos esperamos, de modo natural e
despretensioso. Como é o seu processo de composição?
É exatamente assim que funciona. Costumo dizer, que estou nua e crua nas minhas composições. O que faço é traduzir em forma de canção, sem máscaras, que vem do âmago do meu ser... Há composições que vem inteiras, já outras vêm em partes. Lembro-me de quando fiz uma canção chamada "Apego", em um dia de muita saudade de minha família. Este presente, me chegou em 10 minutos. Compor é algo místico.
- O quê podemos esperar do seu EP?
Muita poesia reunida sob referências do forró, pop, samba, mpb, reggae, jazz e funk. Nosso som não se enquadra em gênero específico, ele é world music e isso é o que torna o projeto interessante, este leque de possibilidades. Utilizar a música como mecanismo de aproximação, diálogo e compreenção é uma intenção.
- Atualmente você está homenageando a cantora Rita Lee com um show especial, juntamente com Morgana Morais, Ruanna Gonçalves e Marcondes Orange. Como é cantar e reverberar a obra da Ovelha Negra da música brasileira, e qual é a importância que ela tem para o empoderamento feminino?
Está sendo um maravilha de encontro e de proposta. Só tenho a agradecer a Morgana Morais, pela
iniciativa. Quem introduziu a Rita Lee na minha vida, foi a mamãe, D. Dila. Ao invés de cantar 'Boi da Cara Preta" para me ninar, ela me cantava "'Ovelha Negra" (gratidão, hahaha). As canções da Rita são bem a frente do seu tempo e trazia, desde muito, discussões a respeito do empoderamento feminino e autonomia da mulher, em épocas nas quais as massas nem se quer questionavam-se a respeito disso. Para mim, 'Agora Só Falta Você" é um hino que me encorajou, em vários momentos da minha vida, a " ser quem eu sou e estar onde estou".
- Os festivais são grandes polos de divulgação para os artistas mostrarem o seu trabalho para o grande público, o quê você acha da iniciativa do Festival de Música da Paraíba e, na sua opinião, o quê ele para proporcionar para os musicistas e compositores do nosso Estado?
"Minhas preces foram ouvidas", foi a frase que usei quando vi o edital... hahaha. Estava esperando por isso. Nós temos uma cena cultural muito rica, e a união e interação desta cena através de um Festival grandioso, como este, fortalecerá e muito o movimento artístico na Paraíba. Eu acredito que o caminho é este. O caminho do incentivo ao artista local, a reunião e união, daqueles que vibram numa mesma sintonia através da arte, para levar, com força, o nome da Paraíba para o mundo. Parabéns ao Governo do Estado, à Funesc , à Radio Tabajara e demais parceiros, pela iniciativa.
- Para fecharmos esse papo da forma mais inspiradora possível, diga-nos uma música, um clipe, um filme e um livro que te inspiram.
A música é "Tempo Rei" de Gilberto Gil, gosto muito do clipe "Girls Just Wanna Have Fun" de Cindy Lauper, o filme é "Le Fabuleux Destin d'Amélie Poulain" (O Maravilhoso Destino de Amelie Poulain) e o livro é "A Elegância do Ouriço" de Muriel Barbery.
Erick Marques