"Lembre-se: pessoas feridas são perigosas"
Perdas e Danos foi um daqueles filmes que eu vi por acaso no final da tarde de um dia qualquer. Claro, o título me chamou atenção, e quando acabou, fiquei estarrecido. Mas calma, vamos do início: é baseado no livro de Josephine Hart (1991). Louis Malle, famoso diretor francês que lançou o seu primeiro longa em 1958 (Ascenseur Pour L'échafaud - Ascensor para o Cadafalso), fez a adaptação cinematográfica e foi responsável por várias obras que lidam com temáticas polêmicas. Essa produção não poderia ser diferente.
O filme é estrelado por Jeremy Irons (que voz!) e Juliette Binoche (que beleza!), que vivem uma relação, digamos, insólita. Para ser apreciado como (e com) um bom vinho (clichê, mas é verdade), o filme não tem pressa, é frio, se passa na Inglaterra e toca na ferida das relações amorosas e sexuais. Te faz perguntar: e se isso acontecesse comigo?
Em meio a uma cena do campo pincelada por Monet, os olhares e os gestos terão que ser sutis. Entre encontros soturnos e secretos, o desejo explode onde quer que esteja, é incontrolável. Tudo começa com um olhar, daquele tipo que a comunicação é clara e evidente, o fascínio e a conexão se unem em forma de desejo entre duas pessoas. Não precisa-se dizer uma palavra, os dois já entenderam tudo, e é na ação que eles se mostram.
A loucura e obsessão por alguém é mesclada a traumas do passado, que afetam o presente e o futuro. O filme trânsita na psique, e nos faz refletir sobre até que ponto as nossas ações podem nos levar e afetar as outras pessoas que estão ao nosso redor.
Perdas e Danos, é um tiro certeiro para quem se interessa por relações humanas e psicologia, além de claro, ser um filme impecável em cenários e fotografia. Foi o penúltimo filme de Malle (1992), que infelizmente faleceu em 1994, e assim como Kubrick, nos deixou com uma obra prima do cinema (De Olhos Bem Fechados, 1999).
Ficou curioso para saber que tal relação é essa? É a minha intenção, atiçar e vontade, não dar "spoilers"! Então, se prepara e não perde tempo, a Netflix adicionou o filme ao seu catálogo recentemente! Outra dica do mesmo diretor é "Au Revoir Les Enfants" (Adeus Meninos, 1987), onde um garoto judeu passa por várias adversidades em uma escola na França durante a ocupação nazista. Até a próxima!
"- Não consigo ver nada além de você.
- Acho que você nunca viu muita coisa."
Erick Marques