segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Entrevista com o vampiro apresenta: André Morais

André Morais é um multiartista paraibano de grande nome no cenário cultural. Natural de João Pessoa, André nos maravilha com a sua obra que transita nas várias vertentes da arte, incluindo música, teatro e cinema; versátil como é, lançou o seu primeiro CD intitulado "Bruta Flor" ,em 2011, fazendo da sensibilidade seu argumento maior para cada canção que assina e interpreta, construindo um retrato da sua alma musical. Em seguida, nos dilacerou com "Dilacerado", album de 2015, onde explora o amor e o erotismo, apresentando dez canções de sua autoria que construiu ao longo de três anos. "Bruta Flor", que também é o nome do monólogo-musical, traz o artista vivendo um trovador que conta e canta a sua história com músicas compostas em parceria com Chico César, Carlos Lyra, Ná Ozzetti, Edu Krieger, Marco Antônio Guimarães, Ceumar, GianaViscardi e Milton Dornellas. “Diário de um Louco”, espetáculo teatral, baseado no conto russo de Nikolai Gogol foi feita em parceria com Jorge Bweres, numa produção do grupo Teatro Lavoura. A obra foi apresentada em mais de 60 cidades do Brasil, através do projeto Palco Giratório promovido pelo SESC. O espetáculo expõe as confidências de um homem comum que encontra na loucura o meio de vencer a mediocridade da existência. No cinema, trabalha como roteirista e diretor, “Alma”, seu primeiro filme, participou de mais de 20 festivais no Brasil e exterior. A obra cinematográfica conquistou o prêmio de Melhor Curta, no Festival Latino-Americano de Toronto, no Canadá; o Prêmio MEC de Melhor Curta Universitário Brasileiro; além dos prêmios de Melhor Fotografia e Melhor Curta-Metragem pela Associação Brasileira de Documentaristas e Curtametragistas de Pernambuco (ABD – PE) no CINE-PE 2005. Em 2009, o projeto de longa-metragem “Rebento”, de sua autoria, venceu o Concurso do Ministério da Cultura para Desenvolvimento de Roteiros de Longa-Metragem inéditos.


1 - André, em qual momento você percebeu que tinha aptidão para o mundo artístico?
Eu comecei a fazer teatro no colégio para fugir da educação física! Na adolescência, estar na energia competitiva do esporte não era algo que queria. Pisei no palco do Teatro Ariano Suassuna, no Colégio Marista, e lá comecei a ter contato com um mundo novo. A partir desse momento eu pude perceber que alguma coisa em mim ocupava um lugar. Um sentido de vocação mesmo! Minhas energias todas se voltavam para isso, para essa construção de um fazer artístico. Onde eu tenho um canal de expressão genuíno e onde eu vivencio um processo de amadurecimento como artista e como homem. Ali eu entendi que o que parecia ser minha fraqueza, ser sensível, sonhador e imaginativo, era a minha força.

2 - Música e performance. Qual é a importância da junção do som e da teatralidade nos seus espetáculos?
Na verdade, essa é a gênese do meu trabalho. Misturar, unir, borrar um pouco essas fronteiras das artes. Eu digo que o teatro é a minha “arte-mãe”, é a base de onde todo processo se desdobra. Então, pela minha formação como artista, não faz sentido ir por outro caminho. Eu penso sempre um show como um espetáculo, e eu sou sempre um ator em cena. Por isso, a palavra dita é tão importante quanto as canções. Nesse momento, também tenho trazido a dança, pela minha vivência de trabalho de expressão corporal que o teatro me trouxe, e assim vou construindo as camadas de cada espetáculo.
3 - Quais são as suas maiores referências no mundo do cinema e como elas transitam no seu trabalho?
Meu primeiro encantamento, na infância, foi com o cinema nacional mesmo. Os filmes dos Trapalhões ficaram muito guardados na minha memória. Depois, na minha adolescência, fui ter contato com o cinema brasileiro mais genuíno, de Vidas Secas, Deus e o Diabo na Terra do Sol, até Central do Brasil. Nesse tempo, também comecei a fazer trabalhos práticos no audiovisual, foi quando decidi entrar para faculdade de Jornalismo e daí abrir meus olhares para o cinema do mundo. Bergman, Kieslowski, Truffaut, Angelopoulos, Billy Wilder e uns tantos outros, viraram referências fortes.

4 - Qual é o maior desafio de produzir uma obra cinematográfica?
O maior desafio é vivenciar todo processo. São muitas etapas, que demandam tempo e dedicação. Meu último filme, Rebento, meu primeiro longa-metragem, foi um processo de 10 anos. Desde a etapa de criação do roteiro, a captação de recursos, a construção de uma equipe, a preparação de elenco, as filmagens e etc. Tudo é uma grande demanda de energia. Agora estou vivenciando o grande desafio que é fazer o lançamento de um longa, não é fácil.

5 – O Festival de Música da Paraíba, que vai acontecer em João Pessoa no início do ano que vem, está proporcionando aos artistas uma oportunidade de visibilidade e reconhecimento. Qual é a importância do Festival para os musicistas e compositores da terra?
Eu penso que é uma grande celebração! Uma celebração da música paraibana, uma celebração dos artistas que estão juntos nessa lida do fazer artístico. Também penso que é um encontro com os artistas de outras cidades, e isso é de suma importância, aproximar mais a Paraíba. Estou curioso para ouvir e aplaudir as obras dos meus amigos de ofício, que estão construindo coisas tão belas! Fico feliz de poder admirar e ter como referência, nesse momento, os artistas que são da minha cidade, muitos da minha idade, produzindo com tanta vocação e delicadeza. Vivenciamos um momento belo e que alegria poder celebrar isso!
6 - André, agora nos diga uma música, um filme, um clipe e um livro que te inspiram no processo criativo.
A música é "7 Cantigas Para Voar" de Vital Farias, o livro "O Amor Natural" de Carlos Drummond de Andrade, o clipe é "Sutilmente" do Skank  e o filme "Nós que Nos Amávamos Tanto" de Ettore Scola.

Erick Marques

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Entrevista com a vampira apresenta: Jamila Marques

Jamila Marqes é uma libriana, cantora e compositora piauiense de berço, e paraibana de coração. Aos 17 anos de idade, mudou-se para Campina Grande, onde cursou Odontologia e logo em seguida ingressou no Mestrado pela Universidade Federal da Paraíba, em João Pessoa. Nascida em uma família de cantores, compositores e artistas plásticos, Jamila não fugiu à regra e encontrou na música um "caminho para realização e felicidade". Começou a compor em 2012 e, desde então, não parou mais. Atualmente, possui um projeto autoral, com a banda que leva o seu nome, em parceria com Pedro Regada, Diego Miranda, Ruanna Gonçalves e Philippe Dias. Definindo o seu estilo como "World Music", suas canções possuem referências do reggae, funk, jazz, pop, samba e forró. Em 2017, lançou dois clipes com as canções "Reconversa" e "Quem Sabe Felicidade", ambas de sua autoria. Atualmente está no processo de pré-produção do seu primeiro EP, que deve ser lançando em 2018. Paralelamente, participa de um projeto que homenageia mulheres da música, levando mensagens de empoderamento feminino e defendendo o espaço da mulher no mundo da música, juntamente a artistas locais como Morgana Morais, Ruanna Gonçalves e
Marcondes Orange.


- Jamila, como surgiu essa paixão pela Paraíba?
Eu tenho paixão pela vida e em vivê-la. Quando tinha 17 anos, fiz vestibular para alguns locais diferentes e então, apesar de passar na minha cidade, no Piauí, resolvi cursar odontologia na Universidade Estadual da Paraíba. Eu queria conhecer outra cultura, estilo de vida e experimentar minha independência e liberdade. A consequência de tudo isso, é meu coração ter se rendido aos encantos desta terra e hoje declarar-se "Piauíbano". Vivo aqui há mais de dez anos e sou grata, por a Paraíba ter me pegado no colo, como uma mãe gentil.
- De formação acadêmica em odontologia para a música, você imaginou que um dia adentraria na vertente musical?
Apesar de sempre sentir a arte correndo nas veias e fazer parte de uma família de escritores, compositores e artistas plástico, a musica era, para mim , uma atividade paralela, um hobby, uma terapia. Quando surgiram as composições, comecei a mostrar, timidamente, aos mais próximos e todos que ouviam diziam: "Ah! mas você tem que mostrar isso para o mundo". Isto reverberou em mim e para além. Hoje, mais que o meu hobby e a minha terapia, a música é o meu caminho para a felicidade e o melhor, ainda é o meu trabalho. hahaha.
- A composição e as ideias surgem muitas vezes quando menos esperamos, de modo natural e
despretensioso. Como é o seu processo de composição?
É exatamente assim que funciona. Costumo dizer, que estou nua e crua nas minhas composições. O que faço é traduzir em forma de canção, sem máscaras, que vem do âmago do meu ser... Há composições que vem inteiras, já outras vêm em partes. Lembro-me de quando fiz uma canção chamada "Apego", em um dia de muita saudade de minha família. Este presente, me chegou em 10 minutos. Compor é algo místico.
- O quê podemos esperar do seu EP?
Muita poesia reunida sob referências do forró, pop, samba, mpb, reggae, jazz e funk. Nosso som não se enquadra em gênero específico, ele é world music e isso é o que torna o projeto interessante, este leque de possibilidades. Utilizar a música como mecanismo de aproximação, diálogo e compreenção é uma intenção.
- Atualmente você está homenageando a cantora Rita Lee com um show especial, juntamente com Morgana Morais, Ruanna Gonçalves e Marcondes Orange. Como é cantar e reverberar a obra da Ovelha Negra da música brasileira, e qual é a importância que ela tem para o empoderamento feminino?  
Está sendo um maravilha de encontro e de proposta. Só tenho a agradecer a Morgana Morais, pela
iniciativa. Quem introduziu a Rita Lee na minha vida, foi a mamãe, D. Dila. Ao invés de cantar 'Boi da Cara Preta" para me ninar, ela me cantava "'Ovelha Negra" (gratidão, hahaha). As canções da Rita são bem a frente do seu tempo e trazia, desde muito, discussões a respeito do empoderamento feminino e autonomia da mulher, em épocas nas quais as massas nem se quer questionavam-se a respeito disso. Para mim, 'Agora Só Falta Você" é um hino que me encorajou, em vários momentos da minha vida, a " ser quem eu sou e estar onde estou".
- Os festivais são grandes polos de divulgação para os artistas mostrarem o seu trabalho para o grande público, o quê você acha da iniciativa do Festival de Música da Paraíba e, na sua opinião, o quê ele para proporcionar para os musicistas e compositores do nosso Estado?
"Minhas preces foram ouvidas", foi a frase que usei quando vi o edital... hahaha. Estava esperando por isso. Nós temos uma cena cultural muito rica, e a união e interação desta cena através de um Festival grandioso, como este, fortalecerá e muito o movimento artístico na Paraíba. Eu acredito que o caminho é este. O caminho do incentivo ao artista local, a reunião e união, daqueles que vibram numa mesma sintonia através da arte, para levar, com força, o nome da Paraíba para o mundo. Parabéns ao Governo do Estado, à Funesc , à Radio Tabajara e demais parceiros, pela iniciativa.
- Para fecharmos esse papo da forma mais inspiradora possível, diga-nos uma música, um clipe, um filme e um livro que te inspiram.
A música é "Tempo Rei" de Gilberto Gil, gosto muito do clipe "Girls Just Wanna Have Fun" de Cindy Lauper, o filme é "Le Fabuleux Destin d'Amélie Poulain" (O Maravilhoso Destino de Amelie Poulain) e o livro é "A Elegância do Ouriço" de Muriel Barbery.

Erick Marques

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Mãe (2017)


Conheci o trabalho de Darren Aronofsky em 2010, quando o diretor lançou um de seus filmes mais conhecidos, "Cisne Negro", estrelado por Natalie Portman. Na época, cheguei a assisti-lo (se não me falha a memória) três vezes no cinema e até participei de uma roda interativa para discernir sobre o figurino da produção com alunos do curso de Design de Moda.
Cada vez mais fui me atentando ao trabalho do cineasta, responsável também por "Requiem para um sonho" (2000), estrelado por Jared Leto e "O Lutador" (2008) com Mickey Rourke; se aventurando também no mundo dos quadrinhos com a Graphic Novel "Nóe" (2014).



Eis que após algumas tentativas de ver o seu mais novo longa, intitulado simplesmente de "Mãe", eu finalmente consegui. Apesar de ter visto o trailer algumas vezes, eu realmente não sabia do que se tratava o filme (ainda bem, o Marketing foi inteligente, além de surpreender o espectador), me surpreendi. A produção estrelada por Jennifer Lawrence e Javier Bardem nos prende, mas é preciso se permitir envolver por tudo que acontece na tela.
É repleto de camadas e detalhes que depois são descaradamente jogados na cara de quem assiste em sequência frenética de acontecimentos.
Eu me vi tendo as mesmas reações da protagonista, reação essa que também é proporcionada pelo artifício da "câmera em primeiro plano" usada por Aronofsky, inclusive em "Cisne Negro". Drama, suspense e terror psicológico estão presentes na onda absurda, surreal, que também conta com Michelle Pfeiffer e Ed Harris no elenco. Faz uma crítica a obsessão pela fama, até que ponto a loucura e alienação afetam o nosso ser? Ânsia pela aceitação e visibilidade. Tema bastante recorrente nos dias de hoje.
Interessante notar que, até um aparelho celular (atual) aparecer em cena, eu não sabia exatamente em que época o longa era adaptado, questionamento esse que é causado pelos figurinos, objetos de cena, móveis antigos... O casal não possui nem sequer uma televisão em casa, não sei se foi intencional, poderia se passar muito bem em algum momento do começo do século passado. Sexismo e opressão feminina são temas recorrentes, agora mais do que nunca, Aronofsky os aborda; outro motivo para a minha dúvida em relação a linha do tempo, era mais comum o sexo feminino se submeter ao masculino em épocas remotas.


No cinema, vi todo tipo de reação: um casal saiu da sala pouco antes da metade do filme (uma pena), outro reclamou dizendo que queria o dinheiro do ingresso de volta, algumas refletindo sobre o que acabaram de ver... Mas o que foi unânime foi a discussão sobre o que se passou na tela.
Enquanto descia as escadas, observei que todos estavam confabulando entre si sobre o que tinham absorvida e suas devidas interpretações acerca dos acontecimentos.
Imbuido de referências bíblicas e relances do pintor contraditório espanhol Francisco Goya, "Mãe" é um verdadeiro apocalipse que começa silencioso, assim como a maioria das tragédias da humanidade.
Dividiu opiniões, iniciou discussões. Amar ou odiar. Esse é o papel da arte na sociedade.
O fazer pensar.


@bloglaranjacravo






quarta-feira, 13 de setembro de 2017

Resenha: O Triste Fim do Pequeno Menino Ostra e Outras Histórias


Em 2010 eu vi pela primeira vez o livro "O Triste Fim do Pequeno Menino Ostra e Outras Histórias" do cineasta Tim Burton, eu e alguns amigos vivíamos explorando uma livraria que se encontrava em um shopping de João Pessoa (aos que moram na cidade, uma dica: ele fica no bairro de "Manaíra" e não, eu não estou ganhando patrocínio desse estabelecimento.)


Dentre as várias descobertas literárias encontradas na minha adolescência eis que esse pequenino livro amarelo foi uma das melhores! Sim, eu já era fã de Tim Burton desde que me entendia por gente. Na verdade, essa já é a terceira edição (brasileira) do livro (novembro/ 2010) lançado originalmente em 1997 que passou por duas reimpressões (2014/ 2016). Na época, eu sempre o via de relance na livraria porque queria comprar e apreciá-lo com a devida calma e respeito, porém, quando consegui a grana já não o achava mais, lembro que procurei, mas nada.
Sete anos depois eu achei o pequeno Menino Ostra e as outras histórias, ou eles me acharam me fazendo rir das ironias, do humor negro que é orquestrado magistralmente pelos poemas e ilustrações do cineasta, e me fazem ficar aflito pela realidade crua e realista na qual os seus personagens infantis são submetidos. Realidade essa que Tim mostra por serem desajustados, deslocados, excluídos, não convencionais ou simplesmente eles mesmos. Temas polêmicos são abordados de modo subconsciente nas aquarelas fazendo com que o impacto seja maior. 
Burton usa de recursos metafóricos e fantasiosos para mostrar com um bom humor negro o que acontece na nossa realidade, muitas vezes cruel. A obra definitivamente é dúbia, sendo alegre e triste, constantemente tragicômica e o mais importante: Nos faz refletir.


"E como era noite de Halloween
O Menino Ostra se fantasiou de ser humano."

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Resenha: Meu Amigo Dahmer

"Cheio de Dahmerismos..."


E se um colega seu do colegial fosse um serial killer? Como você reagiria? É disso que se trata "Meu Amigo Dahmer" do artista e escritor Derf Backderf publicada recentemente pela editora Darkside no seu novo seguimento de Graphic Novels. A história se passa nos famigerados anos 70, Backderf conheceu Jeffrey Dahmer quando ambos estudavam na escola "Revere", no estado de Ohio, onde compartilharam de diversos momentos e onde ele conseguiu observar as ações do colega esquisitão de perto.
Jeffrey Dahmer foi um dos mais notórios assassinos em série que o mundo já viu, acusado de 17 mortes! Mas o que mais chocou nesse segmento é a natureza sexual e pervertida envolvendo necrofilia e canibalismo que os casos apresentam. A ideia de fazer uma HQ veio logo após os crimes serem descobertos em julho de 1991, primeiramente sendo publicada em oito páginas na antologia  "Zero Zero" em 1997, onde instantaneamente ganhou muitos elogios e virou um clássico. Após algumas tentativas nos anos seguintes, Derf decidiu produzir a obra do jeito que tinha previsto, aperfeiçoando o traço e detalhando a história, essa que corrobora a vida do famoso serial killer de uma maneira jamais vista antes. Como adolescente excluído com gostos peculiares, sua vida dentro de casa não era nada amistosa, com pais conflituosos á beira de um divórcio, seu passatempo favorito era recolher, armazenar e dissecar animais mortos que encontrava pelas redondezas, esse era seu universo.


O mundo bizarro de Dahmer parece não ter limites, mas é interessante como o autor/ desenhista consegue ser tão detalhista em todos os momentos, captando as emoções dos personagens. Para compor a obra Backderf entrevistou dezenas de ex-colegas e professores, além de se debruçar sobre os arquivos da polícia e do FBI. Como diz o autor: "A premissa desse livro é de que Dahmer era um personagem trágico, mas isto só se aplica até o momento em que ele mata..." 
"Meu amigo Dahmer" é uma obra detalhista, uma mistura de adolescência no "High School" americano com aquele ar de perigo e suspense! Aliás, as ilustrações noir e soturnas do autor são simplesmente fantásticas, se assemelham com os desenhos de Robert Crumb, enchendo os nossos olhos.


O livro ainda conta com fontes detalhades de diversos meios de comunicação envolvendo o caso, notas de esclarecimento adentrando os acontecimentos página por página, biografias sobre os envolvidos, cenas deletadas, esboços e material extra (incluindo a primeira HQ "O Jovem Jeffrey Dahmer" publicada em 1997). Um prato cheio e a "Darkside" caprichou muito, vai encarar?

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Zodíaco (2007)

Entre cartuns e investigações


Zodíaco é um filme dirigido por David Fincher, conceituado diretor responsável por clássicos do cinema como "Clube da Luta" e "Seven - Os Sete Crimes Capitais". Baseado no "best-seller" de Robert Graysmith (interpreta por Jake Gyllenhaal), a trama conta a história de um dos assassinos seriais mais famosos que perduram o imaginário popular até os dias de hoje, tendo em vista que ele nunca foi pego pelas autoridades.


Tudo começou em 1969, o assassino mandava cartas contendo anagramas para o "San Francisco Chronicle", jornal onde Graysmith trabalhava como cartunista, o interesse pelo caso foi tanto que ele começou uma investigação particular junto com Paul Avery (Robert Downey Jr.), que fazia parte do time de jornalistas da redação. O mais fantástico sobre a história de Robert é que ele não só escreveu, mas também viveu todo o ocorrido, chegando a receber até supostas ligações do próprio Zodíaco em sua residência, indo atrás de suspeitos, desenvolvendo os anagramas e colhendo informações para contribuir com o caso. O filme de Fincher é detalhista, tendo em vista que equipamentos jornalísticos da época são evidenciados, a redação se torna um verdadeiro campo quando a polícia precisa da contribuição imediata dos meios de comunicação para avançarem na investigação. O Inspetor Dave Toschi (Mark Ruffalo), é o responsável pelo caso e é contactado por Graysmith, a investigação é complexa tendo em vista que causa o maior alarde entre a população.


Interessante notar que Fincher faz questão de expor os meios de comunicação no filme, recortes de jornais, televisões antigas, gravadores, revistas e programas de rádio são evidenciados em um tempo que não se tinha internet. Em um quadro de opiniões na rádio local uma ouvinte fala que "não deveriam publicar nada que o Zodíaco escreve, só estão publicando para vender mais jornais." Eis uma das grandes questões jornalísticas em evidência no roteiro da película: Divulgar ou omitir? Quando essa é a questão, muitas pessoas se dividem, o radialista rebate a afirmação da ouvinte dizendo que " o Zodíaco exigiu que publicassem as cartas, ou mataria mais gente..." onde ela afirma que "ele mataria de qualquer jeito".



Outro fato é que David Fincher, o roteirista James Vanderbilt e o produtor Brad Fischer passaram 18 meses conduzindo sua própria investigação para produzirem o longa. A trilha sonora nos situa e transporta para a sonoridade dos anos 60 e 70 com muita facilidade, outro trabalho muito bem feito, a fotografia é soturna (Harris Savides, também responsável por "Seven"), digna de um filme com viés investigativo. A produção não foi filmada inteiramente por meios digitais, câmeras de filme tradicionais de alta velocidade foram usadas para as sequências de assassinatos em câmera lenta. O cineasta faz jus a essa história que é tão cheia de detalhes minuciosos, "Zodíaco" é um filme para ver e rever várias vezes, é uma produção envolta em papel de jornal, seguido por um laço de filme analógico banhado de sangue! "Zodíaco" nos impressiona com os seus anagramas, vamos decifrá-los?


"O homem é o animal mais perigoso de todos..."


O livro de Robert Graysmith não é difícil de achar, para quem quer se aprofundar na história vale muito a pena! Abaixo a trilha sonora completa do filme!


Até a próxima!



terça-feira, 14 de março de 2017

Entrevista com o vampiro apresenta: Fievel Flávio

Fievel Flávio é um artista marcante, daqueles que te fazem reconhecer suas ilustrações onde quer que estejam, natural de Itapororoca no interior da paraíba ele veio morar pela primeira vez em João Pessoa no ano de 2007 mas logo depois acabou voltando para a sua cidade natal, e só em 2013 se estabeleceu na capital. De olhares penetrantes, de dialetos populares e entre descaradas aquarelas, Flávil nos revela mais do que se passa em sua mente e nos situa no seu processo de criação que já estava enraizado desde a sua infância:


LC - Flávio, quando foi que você começou a se interessar pela ilustração?
FF - Comecei a desenhar ainda na infância, era constante o exercício de rabiscar papel, e
fazia porque achava divertido. Conforme fui crescendo, cultivava como hobby, mas não
havia muito estímulo, nem orientação. Penso que na época de escola, poderia ter sido
melhor direcionado a trabalhar essa habilidade artística, mas não aconteceu. Talvez por
isso, mais tarde na adolescência, eu tenha deixado de lado essa aptidão, que hoje
percebo como vocação. Alguns anos depois, eu ingressei no curso de Design de Produto
da UFPB, e lá consegui me reconectar, ainda que pouco, com o prazer de desenhar.
Haviam oportunidades diferentes de conhecer novos materiais e técnicas, mas eu não
conseguia ir muito além de atender as tarefas que as disciplinas de desenho
propunham, era apenas técnico, além disso eu me impunha contra a ideia de me aceitar
como artista, por medo de fracassar. Na metade do curso, meu desinteresse com a área
industrial do design gritava de frustração, e acabei por ir cursar Design Gráfico no IFPB,
onde foi possível me aproximar mais do que me instigava, e as disciplinas que permitiam
um envolvimento com arte eram mais frequentes. Mas foi no tédio das aulas teóricas,
que consegui destravar essa minha satisfação em criar arte. Lembro com clareza de
pegar nanquim e papel e parir uma ilustração alí mesmo no meio de uma aula, apenas
com a pretensão de fazer o tempo passar mais rápido, de lá pra cá não parei mais. Havia
uma maneira de exteriorizar minhas ideias e eu iria tirar proveito. Então, apesar dessa
trajetória, cambaleante, é a partir desse episódio em específico, que surgiu meu
interesse e aceitação por ser ilustrador.


LC - Você geralmente introduz frases nas ilustras, cria personagens, e se auto-retrata
neles. O quão a cultura regional tem influência no seu trabalho?
FF - Frequentemente tento retratar algumas lembranças da minha infância, coisas que
cativo na memória. Como cresci no interior, onde as características regionais são bem
fortes, automaticamente isso é trazido pro meu trabalho, a partir dessa tentativa de
evocar nostalgia.


LC - Quais são os principais materiais que você usa para desenhar?
FF - Meus trabalhos são quase que unicamente manuais, então sempre uso papel, aquarela
e nanquim e raramente lápis de colorir.
LC - Qual a sensação de expor o seu trabalho e geralmente qual é a reação das pessoas?
FF - Eu gosto e tenho satisfação de expor meu trabalho. Lidar com as pessoas é interessante,
ver as reações, e as maneiras com que se conectam com os personagens, é a parte de
que mais gosto em mostrar as ilustrações.


LC - Além de criações próprias, você também ilustra personalidades que ganharam
visibilidade na internet como Inês Brasil e Mulher Pepita. Elas viram as suas ilustrações e
você recebeu feedback delas?
FF - Rsrsrs. A Mulher Pepita é a melhor, gostaria de ter feito um desenho mais elaborado
desse ícone, mas ela recebeu com muita atenção e me deu uma resposta muito
carinhosa. A caricatura da Inês Brasil, é uma arte que gosto muito tecnicamente. Ela
repostou no instagram e eu recebi reações positivas, mas muitas críticas também. Foi
interessante, no mínimo.
LC - Atualmente você está trabalhando em algum projeto? O que podemos esperar?
FF - Geralmente eu trabalho mais em conjuntos de ilustrações, que são mais soltas e
experimentais. No momento, tô trabalhando vagarosamente no meu TCC, onde o
produto final será um livro ilustrado, e sinto que será bem especial.



LC - Agora para fecharmos, uma pergunta padrão que eu sempre faço aos meus
entrevistados: Me diga uma música, um clipe, um filme e um livro que te inspiram na
hora de criar!
FF - Música: Azealia Banks - Along The Coast
Clipe: Grimes - Kill V. Maim
Filme: A Hora da Estrela
Livro: O Orfanato da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares


Que explosão de cores e ideias! Quer saber mais sobre Fievel? Segue lá no insta:

@fievelflavio








sexta-feira, 3 de março de 2017

Logan (2017)

Entre garras e despedidas



Para Luseni Machado

Me lembro como se fosse hoje, o ano era 2000 e o primeiro filme dos X-Men estava sendo lançado, eu tinha apenas sete anos e insisti muito para que a minha avó me deixasse assisti-lo no cinema, e ainda bem que ela deixou, se não eu não estaria escrevendo essa resenha/ experiência com esses mutantes fantásticos hoje em dia, mas tudo isso também graças ao meu tio, que sempre tinha um gibi na mão e um baú preto enorme repleto das mais variadas maravilhas que eu e o meu irmão explorávamos na infância. Á partir desse dia, virei fã, na época minha mãe até comprou uma boneca da Tempestade (interpretada por Halle Berry) e eu vibrei com aquilo, aluguei o VHS (sim, nada era melhor do que a emoção de ir em uma videolocadora), recentemente até comprei o Blu-Ray, faço isso com os filmes que tem história e emoção.


Mas de todos os personagens da trama um me chamou mais atenção, um carcaju rabugento e briguento que fuma charutos e adora uma "pinga" no bar chamado Wolverine. Interpretado pelo ator Hugh Jackman, ele não é o típico herói, ele não é o típico mocinho, muito menos o vilão, ele é um enigma, enigma esse que vem sendo desvendado durante todos os filmes da franquia e só agora foi descoberto em "Logan". Ontem fui na estréia para fechar o clico que começou há 17 anos (tudo isso já???), fui de coração aberto e pronto para ver o melhor Wolverine de todos, e o achei! Desde o começo a divulgação do filme foi incomum (principalmente se tratando de super-heróis), o painel da Fox na CCXP 2016 era repleto de fotos preto e branco, mostrando as fotografias sóbrias e a proposta da película, fora o trailer que traz na trilha a música "Hurt" de Johnny Cash que já dava toda uma atmosfera emocional. O diretor do longa, James Mangold, disse que queria fazer um filme que honrasse a verdadeira essência do personagem, que mostrasse para o público o ser humano por traz do herói: "Queríamos deixar algumas questões. Para fazer um Logan diferente, e um tom diferente de um filme do Wolverine, sentimos que não dava para se apegar com todas as tradições estabelecidas nos filmes anteriores religiosamente, senão estaríamos presos em decisões tomadas antes de nós." A intenção principal não era agradar a todos, porém agradou e emocionou.
No cinema vi pessoas de todas as idades, até crianças, a sala estava lotada e todos se emocionaram principalmente nas cenas em que o Professor Xavier (Interpretado brilhantemente desde o primeiro filme pelo excelente Patrick Stewart) aparecia, a relação dele com Logan é de pai para filho. E por falar em laços, a raivosa atriz-mirim Dafne Keen que interpreta "X-23" é mais um destaque. A atmosfera do filme é apocalíptica, muito inspirado nos clássicos do faroeste americano. 


Já se passou muito tempo, "X-Men 2" (2003), "X-Men 3: O Confronto Final" (2006), "X-Men Origens: Wolverine" (2009), "X-Men: Primeira Classe" (2011) "Wolverine Imortal" (2013), "X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido" (2014), "X-Men: Apocalipse" (2016) e Logan se aposenta, o ator Hugh Jackman já disse que esse é o fechamento do ciclo, sua última vez na pele do carcaju, sua cartada final, Patrick Stewart também, e que bela cartada e trajetória os dois fizeram até aqui. Logan é sobre o medo, sobre confiança, sobre receio, sobre afeto e principalmente sobre a família e o amor que nos move e nunca nos faz desistir, mesmo que pareça que não existe mais esperança, ela está ali. Ao terminar o filme, as luzes se acenderam, eu me despedi de um velho amigo que me acompanhou na infância, adolescência e agora vida adulta, me emocionei e me emociono ainda mais escrevendo esse texto.


Wolverine, Logan, Hugh vocês fizeram parte da minha vida, vocês foram os super-heróis que me confortaram e me emocionaram, e viram como a família está entrelaçada nessa situação toda? Mãe, vó, irmão, tio obrigado por tudo. E mais uma vez obrigado Hugh Jackman, por ter fechado com chave de ouro a sua trajetória brilhante como o herói que você realmente é.


É muita história! Saca só o clipe da música "Hurt" do Johnny Cash, que faz parte da trilha do filme:




De emocionar! Logan está em cartaz em todos os cinemas do Brasil, em breve mais novidades! Aguardem.





segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Resenha: Psicopata Americano (2000)

Entre jantares e assassinatos


"Psicoapata Americano" é um filme baseado no livro polêmico de Bret Easton Ellis lançado em 1991, estreou em abril de 2000 e é dirigido por Mary Harron. Patrick Bateman (Christian Bale) é um vaidoso egocêntrico de Wall Street, sempre presente nos restaurantes mais conceituais de Nova Iorque, nos clubes noturnos mais exclusivos e nos lugares mais caros da Big Apple, com muito dinheiro e uma carreira bem sucedida o que mais poderia querer?


O enredo do longa fala sobre o nosso eu, sobre esconder nossos verdadeiros rostos com máscaras e se adequar a uma sociedade quando na verdade temos muitas contas a acertar com os nossos monstros interiores, ressaltando que o questionamento de que o mal não tem aparência é bastante pertinente. O filme contém muitos detalhes e parece que cada vez que se assiste é uma sensação e ideia diferente sobre quem é ou o que pensa o personagem por mostrar que a maldade talvez não esteja só no gesto, mas também no pensamento. Entre momentos suaves e extremos a produção tem esse poder de nos acalmar para momentos de tensão, confusão, vaidade e principalmente curiosidade tornando-se sempre revelador, principalmente no final. Christian Bale está nada mais do que sensacional no filme, de interpretação impecável, o ator transparece toda a superficialidade, sede de sangue e ódio que o personagem pede, a película ainda contém as presenças ilustres de Willem Dafoe (como o detetive Donald Kimball), Chloë Sevigny (como a secretária Jean) e Jared Letto (como Paul Allen), imperdível! A diretora Mary Harron nos ambienta perfeitamente no mundo de Patrick, na elegância, cobiça e desejo pela alta gastronomia internacional, o personagem é marcante e tem (diga-se de passagem), muito bom gosto!
Patrick é ambicioso e detalhista, exibindo seu corte de cabelo impecável, suas roupas de grife, seu caríssimo apartamento na oitava avenida e seu ego entre seus amigos (que sempre almejam um jantar no restaurante mais cobiçado da cidade: O "Dorsia"), mas isso tudo está á mostra, e o que não está? O que Patrick esconde? Vale a pena descobrir! Psicopata Americano é um filme que mistura um belo rosbife ao ponto com molho de sangue e framboesas frescas.


É sangue!!! Vai encarar? Confere aqui o trailer do filme:


Em breve mais novidades no blog, aguardem!